Permeando desde o desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas até a perda de interesse em outras atividades, os jogos eletrônicos para crianças dividem opiniões entre especialistas, pais e escolas.
O movimento contra o uso de videogames na infância quase caiu por terra de vez, hoje em dia contando com poucos apoiadores – a maioria dos pais já entende a nova era digital em que seus filhos vão crescer e as escolas têm sido um ponto importante para a inclusão digital.
No fim, se trata menos do uso de videogames em si e mais da parcimônia de exposição a conteúdos digitais.
O que dizem as pesquisas?
Pesquisadores europeus descobriram uma nova relação entre o tempo de tela e o aumento da inteligência das crianças. O tempo de tela (horas que as crianças passam em frente a celulares, TV, tablets, consoles e outros dispositivos) hoje engloba diferentes atividades, como mídias sociais, jogos, consumo de conteúdo e o uso de buscadores para pesquisas escolares.
Dada essa variação no uso de telas, é impossível dizer simplesmente que todo tempo de tela é ruim. A pesquisa europeia então decidiu focar na relação entre inteligência e jogos eletrônicos, com um índice de medida de inteligência para tarefas de leitura e vocabulário, atenção e memória, pensamento flexível e autocontrole, processamento visual-espacial e a habilidade de aprendizagem.
Após 2 anos de acompanhamento com 5 mil crianças entre 9 e 10 anos que realizaram testes cognitivos antes e depois do estudo, os pesquisadores concluíram um leve aumento no QI das crianças do estudo se comparadas com as de fora do estudo (que pode ser lido aqui em inglês).
Além disso, como adultos nós sabemos a importância da saúde mental e do alívio do estresse no dia a dia; na infância isso costuma ser negligenciado.
Videogames podem também ser um escape de tensões e ajudar a regular o humor. Jogos que promovem um engajamento prazeroso, como aqueles que envolvem rotinas e cuidados, podem beneficiar o bem-estar e deixar a criança mais atenta ao presente.
Novas habilidades são desenvolvidas
Conforme os jogadores são desafiados a participarem de novos níveis – ou incentivados a tentarem novamente em caso de falha –, habilidades intelectuais e emocionais são desenvolvidas.
Jogar é, no fundo, resolver problemas, uma habilidade necessária do início ao fim da vida de uma pessoa em todos os aspectos. Jogos com ritmos mais acelerados podem também afiar as habilidades de tomada de decisão e reflexos, assim como ensinar os jogadores a lidar com perdas e erros.
E não é porque os jogos são virtuais que a socialização e a comunicação ficam de lado. Jogos multiplayer (multijogadores) permitem que as crianças interajam e encontrem soluções juntas, além de expandir seu círculo social, criando também um vínculo de confiança – depender de um jogador amigo para conquistar alguma coisa pode ensinar muito a uma criança.
É claro que a criança precisa ser exposta a jogos eletrônicos apropriados à sua idade e com limite de tempo, mas, quando bem direcionados, os jogos têm muitas vantagens.
Jogos educativos na escola
É importante atentar-se à diversificação das formas de construção do conhecimento, para que a vida escolar da criança não se baseie apenas em leituras, livros físicos e papéis. Os pais já estão atentos a essa nova realidade, procurando escolas com letramento digital, então cabe às escolas se adaptarem também.
Os jogos educativos estimulam o raciocínio, incentivam as crianças a seguirem regras e exercitam a imaginação, além de todos os benefícios já citados. Jogando, a criança desenvolve interesse, curiosidade e satisfação, construindo conceitos e fazendo descobertas.
Não há necessidade de se reinventar a roda nesse caso: é possível digitalizar jogos a que as crianças já estão acostumadas, como quebra-cabeças e jogos da memória, e assim expô-las ao desenvolvimento das habilidades em questão.
Para crianças com dificuldades de aprendizagem, o uso de jogos é ainda mais importante, pois elas conseguem fortalecer a cognição, a autonomia, a motivação e a concentração. Uma mesma proposta de atividade no plano físico e no digital pode trazer resultados diferentes.
O alerta que fica
Gamers costumam ter desempenho melhor em atividades que requerem alternância entre atividades visuais, divisão de atenção entre objetos em movimento e lembrança da localização de objetos escondidos.
Mas há ressalvas: tempo de tela ilimitado, não exposição a outras atividades (sejam do mundo físico ou digital) e alguns sinais podem causar o efeito contrário ao desejado e deixar a criança “dependente” dos jogos, do tipo que se frustra quando não joga, se torna ansiosa para jogar novamente ou perde o interesse em outras coisas.
Cabe aos pais e à escola selecionarem as melhores alternativas entre a variada cartela de jogos disponíveis no mercado e limitarem o tempo que as crianças têm para jogar. O consumo com moderação é o que faz do videogame um aliado no desenvolvimento infantil.