A pandemia de Covid-19 fez retroceder a educação brasileira: dados divulgados pelo MEC mostram prejuízos em todas as fases da educação básica, que voltou ao patamar de 2013. Para efeitos de comparação, em 2019 o Brasil contava com 15,5% dos alunos abaixo do nível esperado de alfabetização. Em 2021, o índice baixou para 33,8%.
Uma desaceleração na aprendizagem era esperada, mas não a esse ponto. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica também concluiu que quase 40% dos alunos chegam ao quinto ano do ensino fundamental sem saber identificar figuras geométricas básicas.
Tais dificuldades foram mais graves no ensino público do que no privado, afinal, os alunos das escolas públicas têm geralmente pais menos instruídos e com pouca liberdade profissional para trabalhar de casa, o que consequentemente afeta os estudos das crianças que precisaram passar pelas aulas remotas. E o problema da desigualdade educacional por classe não se limita ao Brasil: os Estados Unidos retrocederam 20 anos em 2 em matemática e leitura.
Todos esses fatos desanimadores ajudam a esclarecer o retrato da educação brasileira (e global) e a identificar os pontos mais fracos dos estudantes de hoje. A educação pública já enfrenta os obstáculos de falta de recursos, evasão, desigualdade e desvalorização dos profissionais; além disso, agora o desafio é a recuperação da aprendizagem.
Uma pesquisa da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Itaú Social revela algumas das estratégias das secretarias municipais de educação para recuperar a aprendizagem no período pós-pandemia.
As secretarias municipais de educação contam que a falta de condições logísticas e de infraestrutura é um dos principais desafios na implementação de estratégias de recomposição, o que inclui desde o transporte escolar dos alunos e a alimentação em atividades presenciais de contraturno até a falta de recursos de conectividade para atividades remotas.
A pandemia não afetou apenas a escola e o aprendizado: muitas redes de ensino têm sentido a dificuldade também de engajar os alunos e solicitar a participação dos pais e responsáveis na vida escolar das crianças.
Quais estratégias seguir?
Buscando contornar ou superar tais obstáculos, entre outros, as secretarias municipais da educação têm se dedicado principalmente às seguintes estratégias:
- promover suporte técnico aos diretores
- promover busca ativa como enfrentamento à evasão escolar
- promover acompanhamento individual dos diretores
- implementar atividades para estudantes com maior dificuldade
- promover acompanhamento individual dos professores
Outros métodos para auxiliar professores e gestores educacionais envolvem acompanhamento de professores, compartilhamento de boas práticas, elaboração de materiais pedagógicos, oferta de recursos digitais e apoio psicossocial a professores e alunos, entre outros.
As redes respondentes da pesquisa da Undime estão divididas entre o estabelecimento de atividades escolares para recuperação da aprendizagem no mesmo turno escolar e em contraturno. Na educação infantil, 52% oferecem atividades no mesmo turno, enquanto nos anos finais do ensino fundamental esse número vai para 42%. As escolas também têm optado pelo presencial em detrimento do remoto.
O processo de recuperação da aprendizagem não é fácil nem rápido, mas é necessário para que a escola possa cumprir sua função e os alunos consigam se desenvolver adequadamente.
O início é com uma avaliação diagnóstica que ajudará a estabelecer um plano que caiba aos estudantes de cada instituição. Antes de começar um plano ativo de intervenção e recomposição, a escola precisa entender onde a pandemia afetou e quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos.
Já sabemos da grande trava nos processos de alfabetização e matemática básica, portanto temos um diagnóstico macro sobre a educação brasileira. A seguir, a escola deve trabalhar em priorizar as habilidades da Base Nacional Comum Curricular e treinar professores e gestores, afinal, o currículo deverá ser flexibilizado e algumas competências priorizadas – os fatores tempo e cognição impedem que os professores passem 3 meses ensinando habilidades que deveriam ser trabalhadas ao longo de todo um ano letivo.
Identificadas as habilidades essenciais para o decorrer da vida escolar dos alunos, agora o desafio é do professor, que precisa consolidar as habilidades dos anos anteriores que ficaram em segundo plano. O trabalho é árduo; por isso, a formação continuada e adaptada para este momento da educação brasileira é vital.
As expectativas de recuperação da aprendizagem não são imediatas: levaremos entre 1 e 2 anos para recuperar as perdas e superar os obstáculos que a pandemia trouxe. O preparo para tal movimento começa na gestão, passa pelos professores e se estende para a sociedade como um todo.