É inegável que crianças e adolescentes em idade escolar foram extremamente impactados pela chegada da pandemia do coronavírus, que forçou a implementação de sistemas de ensino a distância. Escolas públicas encontraram as maiores dificuldades, pois têm pouco preparo para aulas virtuais e atendem alunos carentes com pouco ou nenhum acesso à informação. O ensino em 2022 deve trabalhar de uma forma diferente para recuperar a aprendizagem e capacitar os alunos para o futuro.
Para efeitos de comparação, as escolas da rede federal foram as que mais ofereceram ferramentas para comunicação e tecnologia, segundo dados do Censo Escolar de 2021 (clique aqui para ver o material completo), sendo que 82,5% delas forneceram acesso à internet. Na rede estadual, 21,2% das escolas realizaram essa ação, enquanto apenas 2% da rede municipal conseguiram oferecer acesso gratuito ou subsidiado à internet. A rede municipal também conta com o menor número de disponibilização de equipamentos para os estudantes, como tablets, computadores etc.: apenas 4,3% das escolas municipais do país puderam oferecer ferramentas para acesso às aulas. Antes da pandemia, a evasão atingia 5 milhões de estudantes; durante, o número aumentou 5% no ensino fundamental e 10% no ensino médio.
Todo esse cenário apresenta ainda mais desafios aos professores e gestores escolares, que em 2022 precisam recuperar a aprendizagem para suprir as lacunas que surgiram devido às aulas remotas ou à falta de acesso às aulas, assim como trabalhar para aumentar a retenção e o engajamento dos alunos que ficaram tanto tempo longe das salas.
O que é recuperação da aprendizagem?
Os alunos não podem sair da escola ou ingressar no ano letivo seguinte sem os conhecimentos necessários, já que essa falta de conhecimento pode prejudicar a aquisição de outros. Assim, uma recuperação de aprendizagem é um plano que consiste em analisar, intervir e acompanhar lacunas de aprendizagem diagnosticadas.
É preciso construir um conjunto de ações entre escola, família e sociedade em geral para que o estudante volte a percorrer o caminho cognitivo negligenciado durante a pandemia e reduzir a desigualdade educacional ao mesmo tempo.
Uma recuperação de aprendizagem foca em desenvolver habilidades que foram prejudicadas durante o afastamento das salas de aula, mas consideradas fundamentais para a continuidade do ensino formal e do desenvolvimento pedagógico dos alunos.
O primeiro passo da recuperação é a avaliação diagnóstica, que pode ser preparada pelos próprios professores e visa a identificar conhecimentos e competências que não foram propriamente desenvolvidas durante as aulas remotas.
A recuperação da aprendizagem deve complementar o projeto político pedagógico das escolas durante a retomada das aulas presenciais. A comunidade escolar precisa encontrar o equilíbrio entre o que deve ser aprendido em 2022 e o que deveria ter sido aprendido em 2021 e 2020, sem sobrecarregar o aluno e mantendo uma linha de raciocínio que faça sentido para os estudantes, de forma que um conteúdo não perca a conexão com os outros.
Ações para recuperar a aprendizagem em 2022
Uma das formas de recuperar a aprendizagem é investir mais tempo no processo de ensino-aprendizagem, cuidando para que os alunos mantenham-se motivados e engajados. Visto que há mais coisas para aprender e ensinar, é justo que se desprenda mais tempo para as atividades escolares.
Dificilmente todas as lacunas de todos os alunos serão preenchidas, portanto a avaliação precisa priorizar habilidades focais em disciplinas essenciais e conteúdos que servirão de base para o desenvolvimento futuro. O aluno deve recuperar e aprender o que é essencial e mais urgente.
Após a avaliação diagnóstica, é importante desenhar um plano pedagógico para cada aluno ou turma apontando as principais lacunas de aprendizagem e direcionando a didática para aquilo que não foi aprendido. É uma atividade que exigirá tempo e paciência, mas fará a diferença na vida dos estudantes.
A escola também pode começar ações para fazer mais pelos alunos aproveitando a retomada das aulas presenciais para aumentar o engajamento — aulas extracurriculares ajudam a criar o vínculo com o presencial e dão ao aluno uma sensação importante de pertencimento.
Nesse momento delicado, a escuta ativa, o diálogo e a proatividade são vitais para que o desempenho dos alunos não caia ainda mais e eles consigam atingir os níveis de ensino — sejam eles os anos seguintes ou uma graduação — sem ficar para trás.
A BNCC também coloca como pilar o protagonismo dos alunos no próprio aprendizado, portanto metodologias ativas, que colocam os estudantes no centro do processo de ensino, são incentivadas: o aluno busca o conhecimento e o professor age como guia para isso.
Atenção especial deve ser voltada à equipe pedagógica, que deve realinhar expectativas e não exigir dos alunos o que não foi ensinado, e aprender a identificar fatores que os levaram a um baixo desempenho.
A escola ainda deve fornecer ferramentas, como aulas extras ou tecnologias educacionais que promovam o ensino e o engajamento. Jogos e plataformas digitais capturam rapidamente a atenção dos alunos e dão mais dinamismo ao aprendizado, podendo ser usados desde a alfabetização até o ensino médio.