Livros literários e o desenvolvimento das crianças

Livros literários e o desenvolvimento das crianças

Jorge Luis Borges foi um grande escritor argentino que defendia que a imaginação e a fantasia eram fundamentais para o desenvolvimento das pessoas e a criação de novas ideias.

Segundo ele, a fantasia é importante na literatura – e na arte em geral – pois é uma forma de transcender os limites da realidade e explorar possibilidades infinitas, possíveis apenas no campo imaginário. Para Borges, a fantasia é muito mais do que animais falantes, princesas, castelos e batalhas: é uma necessidade humana que possibilita a inovação e a criação.

Imaginar possibilidades além do que é tangível expande horizontes e amplia concepções para as crianças. No dia a dia, os animais não falam, não há princesas em torres e os objetos não têm vida. Permitir que uma criança imagine, internalize esses conceitos tão irreais, é permitir que ela deixe sua própria inteligência se divertir.

E que melhor forma de incentivar a fantasia e a imaginação do que por meio de contos literários?

Livros de contos infantis desenvolvem as crianças de diversas formas. A competência mais óbvia é a linguística, afinal os contos apresentam um vocabulário típico e um conjunto de regras gramaticais bem característico. Ao ler ou ouvir uma leitura de contos, o léxico das crianças aumenta e elas aprendem sobre estrutura e ritmo.

O desenvolvimento cognitivo não fica para trás. Como os contos estimulam a imaginação e a criatividade, eles também encorajam a pensar de forma simultaneamente crítica e lúdica. Conforme tentam construir o sentido da história em suas mentes, as crianças também desenvolvem habilidades de resolução de problemas.

Ler e ouvir contos também ajuda os pequenos a lidar e entender suas emoções. Contos muito frequentemente relatam felicidade, tristeza, medo, raiva e as formas adequadas ou não de expressar tudo isso, ajudando as crianças a entenderem melhor sobre o que se passa dentro delas e ensinando sobre empatia.

Como as histórias também narram a jornada de personagens superando desafios e mudando de vida, as lições de moral presentes nos contos auxiliam as crianças na compreensão do mundo, da sociedade e das formas mais corretas de se viver de acordo com a cultura expressa na narrativa. Valores como honestidade, gentileza e justiça são apresentados de forma sutil, mas marcante.

Por meio de narrativas literárias as crianças aprendem conceitos que talvez nunca tenham sido apresentados, como perda ou luto. Aprendendo a identificar o que cada situação significa, ou seja, aprendendo a dar nome àquilo que vê e percebe no mundo, as crianças podem lidar com cada contexto da melhor forma, uma característica essencial para o bom convívio, a felicidade e a saúde mental.

Pelo mesmo motivo é que o desenvolvimento social entra em pauta: personagens de contos nunca estão sozinhos. Conforme a narrativa se desenrola, os pequenos aprendem como as interações e relações acontecem, conhecimento que pode ser aplicado na sua própria vivência. Valores como respeito, aceitação e diversidade podem ser abordados por meio dos contos.

Como adultos, somos responsáveis pela formação integral das crianças, e isso envolve prepará-las para o futuro. De uma forma subliminar, a leitura ou escuta de contos literários (de narrativas fantásticas, de modo geral) permite que os pequenos aprendam a:

  • resolver problemas, afinal, elas podem antecipar o conflito e prever os possíveis finais da história. Durante a leitura com os pais ou em atividades escolares, os adultos podem atuar como guias da leitura, instigando as crianças a pensarem;
  • inovar, porque a criatividade é a chave de qualquer novidade que uma pessoa pode criar, desde a tecnologia até a arte;
  • se comunicar, afinal uma mente treinada para visualizar uma sequência de eventos tem mais facilidade de explicar conceitos e transmitir ideias;
  • se expressar, porque, como literatura, os contos expandem o léxico infantil, o que ajuda na hora de expressar emoções, pensamentos e sentimentos;
  • desenvolver a resiliência, afinal, pessoas criativas conseguem encontrar saídas, superar desafios e lidar com situações de estresse com mais facilidade.

Em casa, talvez o fator principal para estimular a leitura de contos infantis seja a forte conexão que ela cria entre pais e filhos. O momento da leitura é exclusivamente para pais e crianças e não deve ser interrompido por dispositivos, visitas, refeições ou qualquer coisa que desvie a atenção da criança. O foco é a história, o autor, a editora, os personagens e o momento de deleite do pequeno leitor.

Antes mesmo da criança ser alfabetizada, os pais e responsáveis podem incentivar a capacidade de concentração com a leitura em voz alta. Toda narrativa tem começo, meio e fim, e não há idade mínima para entender a relação entre causa e consequência.

Além disso, a hora da leitura, se tomada como hábito, ajuda tanto a criança quanto o adulto a desacelerar antes de dormir e ter um sono com mais qualidade. O contexto importa, é claro: cada leitura precisa de preparo e interação. Uma leitura de qualidade, quando feita pelos adultos, tem ritmo, entonação e permite que a criança interaja com o livro.

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